Cartões de desconto atraem órfãos de plano de saúde

Depois das clínicas populares, agora é a vez das empresas de cartões pré-pagos ou de descontos em saúde atraírem clientes que perderam o convênio médico ou desistiram de ficar nas longas filas de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). Pelo menos 8 milhões de brasileiros já são usuários desse serviço, segundo levantamento feito pelo Estado com as principais empresas do setor. Para fins de comparação, o número ultrapassa a quantidade de clientes das duas maiores operadoras de planos de saúde do País juntas.

De forma geral, tanto os cartões pré-pagos quanto os de descontos cobram mensalidade baixa (a partir de R$ 14,99) em troca de descontos em uma rede conveniada. A particularidade do serviço pré-pago é que, além da mensalidade, ele exige que os procedimentos sejam pagos com créditos depositados no cartão.

Embora em expansão, o serviço é visto por especialistas em saúde e entidades de defesa do consumidor como uma espécie de convênio com cobertura básica, mas sem regulamentação adequada por não ser classificado como um plano de saúde. A própria Agencia Nacional de saúde (ANS), que regula as operadoras de planos, criou uma cartilha explicando as diferenças entre os dois serviços e os cuidados que o consumidor deve ter ao optar pelos cartões. Entre as críticas estão o fato de os cartões não garantirem atendimentos ilimitados nem uma lista mínima de procedimentos cobertos.

Já os usuários do serviço e as empresas que operam nesse ramo afirmam que o modelo é uma alternativa para quem quer ter acesso rápido a consultas e exames, mas não tem condições financeiras de pagar a mensalidade de um plano.

Maior empresa do setor, a Cartão de Todos (que dá descontos também em estabelecimentos de educação e lazer) viu o número de adesões mensais triplicar este ano. “No ano passado, tínhamos 30 mil por mês. Neste ano, o número passou para 100 mil”, conta Altair Vilar, presidente da companhia, que possui 7,8 milhões de usuários. Na rede conveniada que dá descontos aos portadores do cartão, a consulta médica com um clínico-geral sai por R$ 20.

Para Antônio Eduardo de Carvalho Brigagão, CEO da Vale Saúde Sempre, empresa de cartão pré-pago com mais de 200 mil clientes, as consultas e exames saem mais em conta aos usuários dos cartões porque as companhias do ramo negociam com as clínicas da mesma forma que as operadoras de saúde. “Elas aceitam baixar o preço porque levamos mais clientes.”

Clientes corporativos.

O baixo custo da mensalidade dos cartões fez as companhias atuantes no setor oferecerem o produto não apenas para pessoas físicas, mas também para pessoas jurídicas interessadas em dar o cartão aos seus funcionários. São, geralmente, pequenas ou médias empresas que não oferecem plano de saúde aos trabalhadores.

Com foco nesse mercado, a Doutor Já atende 50 empresas, que, juntas, têm 6 mil trabalhadores. “Algumas oferecem só o cartão de desconto e outras depositam um valor mensal para que os funcionários possam pagar procedimentos”, diz Gustavo Valente, CEO da Doutor Já.

A Ticket, conhecida pelos benefícios refeição e alimentação, lançou em agosto o Ticket Saúde, que também permite as duas modalidades: só desconto ou créditos para o funcionário. “O custo médio para a empresa é de R$ 28 por colaborador”, afirma Adriana Serra, diretora de produtos da Ticket.

Outra gigante que entrou no mercado de cartões pré-pagos de saúde foi a Ultrafarma. Em outubro, a companhia lançou o cartão Sidney Oliveira, que também dá direito a descontos em procedimentos médicos e odontológicos na rede conveniada.

Apesar dos descontos dados pelos cartões, a Proteste alerta que nem sempre o serviço pode ser vantajoso. “A pessoa tem de pagar a mensalidade e mais os procedimentos que for fazer. Se fizer muitas consultas e exames, não vai compensar”, diz Luiz Costa, analista de negócios da entidade.

Para Marília Louvison, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP , os cartões podem deixar pacientes desprotegidos. “Esse formato não garante continuidade do cuidado nem a resolutividade porque o atendimento vai até onde o paciente pode pagar.”

Questionadas, as empresas do setor afirmam que o serviço tem como foco a atenção primária, com quadros de baixa complexidade e ações de prevenção e promoção da saúde.

Por Fabiana Cambricoli, O Estado de S.Paulo

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